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Reportagem Publication logo Abril 30, 2024

Turistas em busca de tranquilidade, contato com a natureza e foto com búfalos vão à costa do Pará

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rainforest
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This project will cover the environmental and socioeconomic activities on Brazil's northern coast.

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Guarás voam perto de manguezal na praia de Cajú-una, em Soure, no arquipélago do Marajó. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Passeio de barco pelos manguezais para conhecer fauna e flora é um dos serviços oferecidos


SOURE (PA) E AJURUTEUA (PA)—O termômetro do carro indica 31°C, e o sol que sai de trás das nuvens não deixa dúvidas da potência do calor no norte do Brasil num dia de fevereiro. A expectativa do pé d'água, que se forma religiosamente após o almoço, vem com um vento que balança os galhos das árvores de mangue-vermelho.

O som do vento atingindo a vegetação se mistura ao de um pequeno barco a motor —com capacidade para até seis pessoas— que corta os braços do rio e adentra a floresta de manguezais, a mais extensa do mundo.

Alguns metros adiante, já próximo de onde o rio desemboca, os bancos de areia formam a moldura para os igarapés. Um guará-vermelho aqui, uma garça-branca acolá, em busca de alimento no leito do rio.

É com essa paisagem que turistas que vão em busca das praias no litoral do Pará descansam —e transcendem a imagem típica da floresta amazônica—, navegando por cenários pouco conhecidos.


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Destinos turísticos praianos já conhecidos dos paraenses, os vilarejos de pescadores e as praias da costa do Pará, desde a Ilha do Marajó até Bragança, buscam agora atrair também pessoas de outros estados. Ali, a tranquilidade, as praias sem ondas fortes e o contato do rio com o mar animam também para atividades de pesca recreativa, organizadas com medidas que respeitam a natureza.


Turistas tiram fotos no deck do Kiall, em Ajuruteua. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

José Maria Rojão Oliveira, conhecido como Zézinho, é o dono do Kiall, que estabelecimento oferece refeições, hospedagem e eventos em Ajuruteua, praia na região de Bragança. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

O chamado ecoturismo propõe estimular turistas a desbravarem destinos além do simples contato com o ecossistema. A ideia é que, por meio de educação ambiental, os visitantes reflitam sobre a proteção ao meio ambiente e o respeito às comunidades.

"Não é só sobre ter contato com a natureza, é sobre ter um contato de qualidade", diz Júlio Cesar Meyer, que atua no uso público de unidades de conservação do Pará há 15 anos e também coordena a Trilha Amazônia Atlântica (que conecta Belém à serra do Piriá, na divisa do Pará com o Maranhão).


A estrutura do Kiall conta restaurante e hospedagem. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

No deck do quiosque, é possível descansar nas redes disponibilizadas pelo estabelecimento. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Ele explica que, apesar de o Brasil ter tradição em atividades de educação ambiental, é fundamental que esse tipo de aprendizagem aconteça também in loco. "Tem aquela máxima de que a gente só preserva aquilo que a gente conhece", reflete.

Na vila de pescadores de Ajuruteua, no município de Bragança, se destaca a pousada e restaurante Kiall. São poucas as paredes por lá —o ambiente convida à observação do cotidiano.


Imagem gentilmente cedida por Folha de S.Paulo.

Entre as cercas de madeira, todas coloridas, são oferecidos pratos típicos, redes de descanso e ducha para quem quiser aproveitar um banho de mar, a menos de 400 metros a pé do local.

Para chegar lá, saindo do centro de Bragança, são 36 km de estrada. Nela, vivem garças e guarás e, em alguns trechos, passa-se ao lado de paredões de raízes e galhos dos manguezais que cercam o caminho.


A decoração no Kiall utiliza, por exemplo, barcos que não são mais utilizados. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Quem visita a vila de Ajuruteua geralmente procura silêncio e tranquilidade, então a falta de quiosques muito próximos à praia não costuma ser um problema —existe a proibição desse tipo de estabelecimento por se tratar de uma unidade de conservação ambiental, explica José Maria Rojão Oliveira, o Zezinho, proprietário da pousada Kiall.

A praia de Ajuruteua está inserida na Reserva Extrativista (Resex) Marinha Caeté-Taperaçu, por isso, para que o Kiall pudesse funcionar, foi necessário um plano de manejo. Isto é, um projeto para negociar o uso do local com a comunidade, que é quem dá a palavra final sobre o aval ao funcionamento.


Ageu Mescoto de Melo realiza passeio guiado para turistas, na praia de Ajuruteua. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Ageu Mescoto de Melo é pescador e posa próximo ao curral da família, na praia de Ajuruteua. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

"Nós fizemos um plano de mitigação para ter a licença de atuar dentro da reserva. Na região, somos os únicos a ter essa autorização", diz Maryllin Oliveira, turismóloga e dona do Kiall, que trabalha junto do pai.

O diferencial do Kiall está na relação do visitante com quem vive por ali, em práticas como trilhas ecológicas e passeios de barco educativos.


Ageu posa próximo a um dos currais da família. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Ageu pesca de outras formas para sobreviver, mas faz questão de manter viva a técnica do curral, que está na família há gerações. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Todos os colaboradores da pousada são moradores da vila, que tem na pesca artesanal a sua principal fonte de renda. Muitos utilizam a chamada técnica de curral para pescar: fazem uma armadilha com estacas de madeira para, quando a maré subir, os peixes ficarem presos.

Ageu Mescoto é um dos pescadores da vila, onde sua família constrói as estruturas dos currais há gerações. Com o turismo ecológico, ele também atua como guia turístico da região.

"Em dezembro, vieram umas 20 e poucas pessoas do estrangeiro para cá, e eu mostrei para eles sobre o curral", conta, orgulhoso, sobre as excursões que realiza de barco. "É uma troca de saberes. Porque, geralmente, o pessoal tem a teoria, mas não tem a prática, né? Eu já não tenho a teoria, mas tenho a prática", diz, rindo.


Valdir Ferreira trabalha com seus búfalos na Praia do Pesqueiro. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Do outro lado do mar, na Ilha do Marajó, a cerca de 100 km de Belém, as principais atrações são as praias com longas faixas de areia —a descida da maré ali costuma chegar a oito metros— e a população de búfalos.

O arquipélago —o maior flúvio-marítimo (de mar e rios) do mundo— é composto de aproximadamente 3.000 ilhas, de diferentes tamanhos. De acordo com pesquisa recente do Ministério do Turismo, o Marajó aparece em 10º lugar em um ranking que elenca os destinos de maior interesse dos brasileiros.


Valdir Ferreira posa ao lado de seu búfalo na Praia do Pesqueiro. Nas cidade do arquipélago do Marajó, os animais são vistos cotidianamente. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.
Map of Pará, Brazil
Imagem gentilmente cedida por Folha de S.Paulo.

Por mais que façam sucesso, os búfalos são animais exóticos, não compondo a fauna nativa do Brasil. Foram levados para a ilha em 1895, segundo registros históricos e, agora, são mantidos e criados por toda a parte —até mesmo em praças e esquinas é possível ver um deles. A produção do queijo de Marajó, feito com leite da búfala, leva a curiosos para apreciar a cultura local, assim como a famosa cerâmica marajoara.

"Mesmo sendo espécies exóticas, uma própria resolução do ICMBio, de 2018, prevê a utilização dos animais para passeios turísticos, conforme o plano de manejo das Resex, por serem um símbolo de turismo na Ilha do Marajó", aponta Eduardo Costa, secretário estadual de Turismo do Pará.


Numa estrada de terra, o carro da reportagem cruza com carroças sendo puxadas por búfalos. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Nas cidade do arquipélago do Marajó, búfalos são animais vistos cotidianamente em diversas situações. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Outro atrativo da região é a Resex de Soure, no município de mesmo nome, onde é possível apreciar a paisagem de manguezais com árvores de até 40 metros de altura.

Partindo de Soure, um trajeto de 30 minutos de carro leva à praia de Cajú-una, onde vive a comunidade homônima. Para chegar, é preciso pagar uma taxa e atravessar uma propriedade privada, a Fazenda Bom Jesus. Quando os pés alcançam a areia a vista impressiona pela quantidade de coqueiros e guarás, aves de vermelho vivo, voando pelos igarapés.


Nas cidade do arquipélago do Marajó, búfalos são animais vistos cotidianamente em diversas situações. Na foto, um búfalo descansa numa poça de água na cidade de Soure. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Na região de Soure, búfalo puxa carroça numa estrada de terra. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Guia de um dos passeios oferecidos por moradores, Carlos Pereira aponta para as aves que cruzam o céu, entusiasmado com a quantidade de animais para mostrar aos turistas levados em seu barco.

Ele, que mora na região há 44 anos, descreve trilhas que levam a praias ainda mais paradisíacas, um ecoturismo "raiz", ele ri. "Aqui a gente faz acontecer."

Vídeo gentilmente cedida por Folha de S.Paulo.

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